Esta pesquisa objetivou refletir, à luz dos debates sobre gênero e raça, a sub-representatividade
de mulheres pretas na política no Centro-oeste brasileiro. As questões que nortearam esta
investigação foram saber quais as dificuldades enfrentadas por mulheres pretas quando
concorrem a cargos públicos? Como as opressões de gênero se relacionam com as opressões
de raça para impedir a ascensão de mulheres pretas na política? E por que os mecanismos
criados até agora para incentivo às mulheres nas eleições ainda não foram capazes de produzir
uma mudança real no número de mulheres eleitas, especialmente das autodeclaradas pretas?
Assim, formulou-se como objetivo geral, analisar a participação política das mulheres
autodeclaradas pretas nas eleições municipais de 2020 nas 3 (três) capitais da região Centro-
Oeste do Brasil. Para alcançar este objetivo geral, (i) mapeamos as candidaturas de mulheres
autodeclaradas pretas nas eleições municipais de Cuiabá, Campo Grande e Goiânia e; (ii)
procuramos conhecer os atravessamentos de gênero e raça nas trajetórias de vida de candidatas
autodeclaradas pretas nas eleições municipais de Cuiabá, Campo Grande e Goiânia. Esta
pesquisa teve cunho bibliográfico valendo-se de referências como os estudos de Lélia
Gonzalez, Grada Kilomba e bell hooks, entre outras/os autoras/es negras/os. Utilizamos
também pesquisa documental ao analisar os dados fornecidos pelo Tribunal Superior Eleitoral
– TSE, visando mapear as candidatas participantes da pesquisa e pesquisa de campo, com a
aplicação de questionário com perguntas abertas e fechadas, o qual obteve 23 respostas de
candidatas autodeclaradas pretas, que concorreram às eleições municipais ao cargo de
vereadora nos municípios de Cuiabá, Campo Grande e Goiânia. Como resultados da pesquisa
constatamos que a problemática vai muito além da legislação (mas também passa por ela),
posto que na realidade reflete-se problemas históricos profundos e intrincados com a formação
social brasileira, o que exige um esforço político para a superação das opressões que atingem
mulheres negras, os quais as cotas de gênero vigentes na legislação eleitoral brasileira são
insuficientes para superar. Além disso, pelas respostas coletadas observa-se que as
participantes possuem nítida percepção da ocorrência do racismo e da misoginia em suas
trajetórias eleitorais, perpetrados pelo eleitorado e pelos partidos políticos.