Parafraseando Ricardo Antunes (2018), este estudo foi realizado considerando um
contexto marcado por uma nova morfologia de trabalho que também impõe, aos(às)
docentes, formas cada vez mais intensas e repactuada a partir de 2016 com a
proibição de novos concursos para docentes e técnicos, congelamento dos salários e
cortes e/ou contingenciamentos no repasse de recursos orçamentários para as
Universidades Federais. É sob esse contexto que esta pesquisa – de natureza
qualitativa e quantitativa – propôs analisar a relação existente entre as condições de
trabalho, as exigências institucionais e o adoecimento de docentes da UFMT no
período entre 2011 e 2022. Fundamentada no método materialista histórico-dialético,
esta pesquisa problematiza, inicialmente, as consequências das políticas de
reconfiguração da educação superior no Brasil e o cotidiano laboral do(a) professor(a),
o que permitiu identificar os impactos da reestruturação das Universidades Públicas
no trabalho e na saúde docente. Em um segundo momento, foi possível mapear, a
partir dos registros da Coordenação de Assistência Social e Saúde do Servidor
(CASS), o número de afastamentos, tipos e descrição de adoecimentos com nexo
com o trabalho docente, tomando como base as informações registradas no Setor de
Perícia em Saúde da Unidade do Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do
Servidor (SIASS/UFMT). Assim como apresentar os resultados das respostas
reunidas através da aplicação de um questionário – encaminhado pela plataforma
google forms – junto ao corpo docente ativo da Universidade. Com o predomínio das
pesquisas documental e de campo, este estudo contemplou a participação de
docentes com vínculo nos cursos de Graduação, Pós-graduação stricto sensu
(mestrado e doutorado) e nas Residências em Saúde, nos campi da Universidade e
no Hospital Júlio Müller (HUJM). Na análise, foram coletadas informações de 300
(trezentos) prontuários médicos, cujos dados foram compilados por perfil, CID-10 de
maior e menor prevalência, tempo de afastamento (total de dias), ano de admissional,
e utilização dos serviços da CASS pelas(os) docentes. Em relação ao questionário
aplicado através da plataforma google forms, este foi enviado, por meio de convite
eletrônico (e-mail institucional individual em lista oculta), para 1.500 (um mil e
quinhentos) docentes ativas(os) dos campi de Cuiabá, Várzea Grande, Araguaia
(Barra do Garças/Pontal do Araguaia) e Sinop. Dentre este universo, 93 (noventa e
três) docentes responderam ao questionário durante os meses de abril e maio de
2023. O resultado permitiu reunir informações sobre o número de afastamentos
relacionados às condições do trabalho docente na UFMT entre os anos de 2011 e
2022; identificar a sobrecarga de atividades atribuídas ao(às) docentes que
extrapolam a dimensão ensino, pesquisa e extensão; apontar os principais agravos à
saúde física e mental que estão relacionados às condições de trabalho no período
pesquisado, bem como identificar como o fenômeno do adoecimento e as atuais
condições do trabalho docente têm se manifestado no atual contexto do país e,
consequentemente, na UFMT. Não menos importante foi possível identificar que a
reconfiguração do ensino superior iniciada nos anos de 1990, continua precarizando
as condições de trabalho nas Universidades Públicas Federais do Brasil – em
especial, mediante a sobrecarga de atribuições que extrapolam as atividades
docentes –, deixando-as(os) cada vez mais suscetíveis aos processos de
adoecimento.